quarta-feira, 21 de novembro de 2012
“Minha vida é esta: subir Bahia, descer Floresta
Todos os caminho iam à Rua da Bahia. Da Rua da
Bahia partiam vias para os fundos do fim do mundo, para os tramontes dos
acabaminas… A simples reta urbana… Mas seria uma reta? Ou antes, a curva? Era a
reta, a reta sem tempo, a reta continente dos segredos dos infinitos paralelos.
E era a curva. A imarcescível curva, épura dos passos projetados, imanência das
ciclóides, circulo infinito… Nós sabíamos, o Carlos tinha dito. A Rua da Bahia
era rua sem princípio nem fim. Descíamos. Cada um de nós era um dos moços do
poema. Subíamos. ‘Um moço subia a Rua da Bahia (Pedro Nava)
Os boêmios estavam lá para desorganizar e
contestar, e os bares da Rua da Bahia eram o cenário perfeito. Alucinados pela
embriaguez e pelas ideais vanguardistas muitos arriscavam a subir os arcos do
Viaduto Santa Tereza. Não desafiavam apenas a cidade, mas desafiavam a morte. A primeira geração a subir foi a de 20, com
Carlos Drummond e vários outros boêmios que vinham descendo a rua. Vinte anos
depois, a geração de 45, que não só admirava a arte de Drummond, tratou de
imitar o feito. Agora, eram Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Hélio
Pellegrino que subiam correndo a estreita faixa de concreto. Drummond uma vez foi detido pelo ato, e
Sabino escreveu na sua obra “Encontro Marcado” a sensação de passar pelos arcos
com o trem passando sob seus pés. Atitude digna de quem queria quebrar o ar
comportado de Beagá. “Naquela noite Mauro se animou a subir. Quando se viu largado no vazio,
tendo sob seus pés apenas meio metro de cimento e lá embaixo, muito embaixo, os
trilhos de ferro a brilhar, um trem passando exatamente naquele instante, não
resistiu a vertigem. Deitou-se de bruços, agarrou-se com força dilacerando as
unhas na superfície ásperas, pôs-se a chorar...” (O
Encontro Marcado, Fernando Sabino)
Depois de muitos anos, a Rua da Bahia parecia estar fadada ao total ócio cultural. Não havia mais pensadores, não havia mais conversas, era apenas o ritmo da cidade grande. A mudança foi tão grande que até hoje é possível dividir a rua em duas: a parte baixa, situada próxima à Praça da Estação, com mendigos, bares “copos-sujos”, prostíbulos, comércios populares com mulheres com as mãos cheias de sacolas.E a arte alta: situada próximo à Praça da Liberdade, com bares refinados, faculdades, prédios luxuosos, engravatados andando rapidamente, estudantes saindo da biblioteca. A única coisa comum as duas é o trânsito caótico. Mas onde entra a cultura nesse apartheid ? Há 13 anos atrás a arte da rua da Bahia estava apenas nos livros.
Mas grupos ligados ou não ao governo começaram o processo de revitalização da Rua da Bahia. Houve e há uma reocupação, uma renovação.
Não
há uma tentativa de imitar a boemia das décadas anteriores, mas um vontade de
não deixar o espírito da rua morrer. Desde o Mercado das Flores, antigo ponto
dos bondes, que hoje têm filas enormes para a compra de ingressos de peças, até
o novíssimo Centro Cultural da UFMG, a regra é a mesma: ocupe a Rua da Bahia.
Estamos falando de uma rua
diferente, um mundo diferente. Um mundo que tem tudo ao mesmo tempo. E para redescobrir a Rua da Bahia
basta fazer coisas simples: ler, sentar no boteco, conversar, ouvir sons, ver
cores, andar; nada muito diferente das décadas passadas. Talvez você prefira descer a Bahia e subir a
Floresta. Não faz mal, afinal um pouco de transgressão faz bem à boêmia Rua da
Bahia.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
O curioso caso das vovós fortonas de BH.
Não sei se é só por aqui, presas pelas montanhas, que as senhorinhas de idade avançada adquirem uma força de Sansão. Fico tão surpreso com as muitas velhinas saindo de sacolões e supermercados com quilos e quilos no braço.
Aqui em casa habita uma dessas vovós marombeiras que carregam melancias, laranjas e maçãs como se os oitenta e poucos anos não tivessem importância (para loucura e preocupação dos filhos e netos que não entendem essa força escondida entre cabelos brancos, óculos e um vestido florido).
Enquanto os vovôs morrem bem mais cedo ou se encolhem em manias de velhos virando uma Olívia Palito reclamona , muitas vovós aqui de BH viram Popeye e carregam por aí toneladas de mantimentos para fazer suas quitandas ao final da tarde.
O sobe e desce das ladeiras...o vai e vem das fortonas. Lembraças de uma vida onde tudo era mais difícil e não exitia tempo para reclamar, essas vovós podem não ter participado dessa tal revolução feminista, mas mesmo tradicionais e religiosas são o exemplo da independência!
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